Estudos de Jó

 

 

Estudos de Jó

 

 

Pr. Josias Moura de Menezes

 

ESTUDO I  —  O EXEMPLO DE JÓ

 

 “Eis que temos por felizes aos que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó, e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia, e compassivo.” (Tiago 5:11)

 

Alguns personagens foram colocados nas Escrituras para demonstrar aquilo que o crente não deve ser. Todavia, as Escrituras contêm inúmeros exemplos de pessoas como Paulo, que disse: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1 e Hebreus 13:7)

Jó é um dos bons exemplos para os crentes, tanto do Velho como do Novo Testamento. Ezequiel usou Jó como um exemplo de retidão a ser considerado por Israel (Ezequiel 14:12-23). Tiago, o primeiro escritor de uma epístola cristã, referiu-se a Jó como um exemplo de paciência a ser considerado pela Igreja. (Tiago 5:7-11)

 

1.1  A retidão de Jó


A retidão que as Escrituras atribuem a Deus e ao crente fiel é baseada no caráter e nos atos de Deus. O homem não pode servir como padrão de justiça porque ele é um pecador, e pecado é considerado injustiça. A retidão do crente é obtida do próprio Deus. Ela conforma-se perfeitamente à vontade de Deus em todas as áreas da vida. (1 João 5:17; Romanos 4:3,6; 2 Coríntios 5:21; 1 João 2:28-3:12)

A retidão de Jó foi manifestada tanto antes como no decurso de suas provações, pois ele já era reto em sua vida diária. Não foram as provações, em si, que o tornaram reto. Esta foi, na verdade, a razão do ataque de Satanás e do prazer de Deus. Jó passaria a ser um exemplo para os demônios e para os homens.
De acordo com Jó 1:1, as características que faziam parte da retidão de Jó eram as seguintes: 1) integridade, 2) retidão, 3) temor de Deus, e 4) afastamento do mal.

A palavra “íntegro” significa “completo”, descrevendo a perfeição da justiça de Jó.

“Reto” enfatiza a constância e a lealdade. A retidão de Jó não era intermitente. O “temor” de Deus manifestado na vida de Jó era a motivação para a sua retidão ou justiça. Este temor não é medo do poder e retribuição de Deus, mas um temor reverente (um profundo respeito) por quem Ele é. O resultado é o desejo de não desagradá-Lo. A pessoa que tem esta espécie de respeito por Deus, buscará ter uma vida de acordo com o caráter de Deus.

Jó evitava também praticar o mal. A retidão não é unicamente uma separação que faz a pessoa aproximar-se do caráter e da pessoa de Deus, mas uma separação de tudo que é contrário ao caráter de Deus. Esta é a essência da retidão. Jó não era inconsistente; sua retidão era completa e constante.

Jó foi primeiramente privado de toda a sua riqueza material e de sua família (Jó 1:9-19). Satanás pode ter descoberto que outros crentes mantinham uma vida reta, apenas enquanto Deus os abençoava, e então aconselhou Deus: “Toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti.” (v. 11)

A simplicidade das Escrituras demonstra a singularidade da vida de Jó: ele manifestou sua tristeza e adorou a Deus. (v. 20)
A marca da aprovação de Deus sobre a retidão de Jó é surpreendente e simples: “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.” (v. 22) Jó manteve-se separado do pecado durante todas as suas privações.

 

1.2  A paciência de Jó


A opressão satânica tinha apenas começado para Jó. A firmeza de Jó foi tomada por Satanás como orgulho (Jó 2:4). O ataque seguinte, portanto, foi dirigido contra a pessoa de Jó.

Deus limitou o poder de Satanás; ele podia infligir a Jó qualquer forma de tormento físico, mas não podia matá-lo (v. 6).

A segunda provação iria estabelecer um aspecto diferente da santidade de Jó — a paciência. Jó recebeu a primeira provação com louvor. Receberia a segunda com paciência?

Os tumores que cobriam o corpo de Jó (v. 7) eram parecidos com furúnculos ou feridas purulentas. Os efeitos desta doença na vida de Jó foram dramáticos, mas a sua santidade não desapareceu. A primeira evidência de sua perseverança veio numa forma prática, não dando lugar ao pânico. Jó começou a raspar o pus da pele com um pedaço de cerâmica (v. 8). Isto pode tê-lo aliviado temporariamente da coceira e evitado que a doença se espalhasse através do pus.

A mulher de Jó foi a primeira a reagir à situação. Ela o aconselhou a esquecer o seu orgulho pessoal e amaldiçoar a Deus (v. 9). A resposta de Jó mostra que ele ficou surpreso ao ver a esposa reagir tão insensatamente: “Falas como qualquer doida” (v. 10), acusou-a. Apesar de surpreso com o seu comportamento, tratou-a com amorosa firmeza e bondade: “Temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” (v. 10), perguntou. Jó, sem nenhum traço de egoísmo, deu à mulher o seu lugar de direito ao lado dele nas bênçãos e no sofrimento. (Veja Gênesis 2:23,24)

O comentário do Espírito Santo a respeito desta segunda provação (v. 10) é quase idêntico ao anterior. Um importante acréscimo, porém, enfatiza a área geral do pecado, quando falha a paciência: “Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.” Tal ênfase não escapou evidentemente aos olhos do apóstolo Tiago, pois em Tiago 5:9, 12-16, ele coloca o exemplo de Jó em um contexto repleto de referências ao nosso modo de falar.

Os últimos dias de Jó trouxeram-lhe o dobro de bens que anteriormente possuía (Jó 42:10-15). As grandiosas bênçãos de Deus se estenderam até mesmo aos filhos que Ele deu a Jó e a sua esposa. Contrariamente às ovelhas, camelos, bois e jumentos, Jó poderia um dia, gozar novamente da companhia dos filhos, além da sepultura; Deus precisava conceder-lhe então apenas mais dez filhos, para dobrar o número deles. (Jó 1:2; 42:13-15.)

O fato pouco comum de conceder herança às filhas, como se fazia com os filhos, revela a grande riqueza de Jó e enfatiza o seu reconhecimento contínuo de que tudo o que possuía pertencia a Deus.

A vida de Jó prolongou-se por mais 140 anos, depois de suas provações (w. 16,17). Deus recompensou claramente a retidão e a paciência de Jó. Seu prêmio foi total, e completa foi a sua justificação. À medida que observamos os atos de Deus na vida de Jó, para o bem deste e para a Sua glória, concedamos a Deus o direito de operar em nossa vida, sabendo que “o caminho de Deus é perfeito” (Salmos 18:30).

 

 

ESTUDO II  —  OS INIMIGOS ESPIRITUAIS DE JÓ

 


“Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.” (2 Coríntios 2:11)

 

Quem é o poderoso e terrível adversário dos cristãos? Ele é chamado por aproximadamente quarenta nomes, na Palavra de Deus, mas um dos mais conhecidos é “Satanás”. Este nome para o diabo é um termo hebraico, e significa literalmente “adversário”.

Este adversário sobre-humano atacou Jó em duas áreas de sua vida, a fim de golpear o objeto final da inimizade de Satanás: Deus. Quando Deus chamou a atenção de Satanás para a firmeza da fé possuída por Jó, o adversário viu uma oportunidade para desafiar a integridade de Deus. O inimigo de Jó era Satanás, porque este buscava a destruição e perda do bem-estar de Jó.

 

2.1  Satanás, o adversário de Jó

 

Os métodos que Satanás usou contra Jó e o caráter que manifestou ao atacá-lo, continuam sendo utilizados pelo inimigo. Um estudo do adversário de Jó capacitará o crente a obter um conhecimento para aplicação na sua vida diária que Deus deseja que ele tenha. (Veja 2 Coríntios 2:11)

A primeira batalha entre Jó e Satanás foi motivada pela crença deste último de que a abundância das bênçãos materiais concedidas a Jó fosse a razão de sua reverência a Deus (Jó 1:9-11). O adversário passou a eliminar a riqueza de Jó depois de Deus ter-lhe dado permissão para isso (w. 12-19).

O primeiro ataque contra a riqueza de Jó foi feito por intermédio da tribo guerreira dos sabeus (Jó 1:15). Os servos que cuidavam dos jumentos e dos bois foram mortos e os rebanhos roubados. Restou somente um empregado para levar a Jó a notícia do desastre (vv. 14,15).

O segundo ataque contra a riqueza de Jó manifestou o poder de Satanás para realizar milagres. Ele enviou fogo do céu para devorar as ovelhas e os pastores (Jó 1:16). O servo confuso que sobreviveu declarou ter sido “fogo de Deus”, pois não podia conceber ninguém mais, senão Deus, como possuidor de tão terrível poder. Este poder de Satanás para realizar prodígios só pode ser exercido, entretanto, quando Deus lhe dá permissão para isso.

O terceiro ataque feito aos bens materiais de Jó foi uma repetição do segundo, exceto por se tratar de um povo inimigo, diferente e animais e servos diferentes. (v. 17)

O quarto ataque contra os bens de Jó foi dirigido aos seus amados filhos e filhas (v. 18). O poder usado por Satanás neste terrível ataque foi aquele que ele possui sobre os elementos da natureza em nosso planeta. Talvez você tenha ouvido falar de exemplos onde missionários foram impedidos de espalhar o evangelho de Jesus Cristo por causa de terremotos, inundações, incêndios em florestas, ou tempestades de areia. Esse é um dos métodos usados por Satanás para destruir o plano de Deus. Apesar de não poder destruí-lo, ele ocasionalmente o interrompe. Veja Mateus 8:23-27 quanto a um possível exemplo do uso feito por Satanás dos elementos naturais numa tentativa de matar a Cristo.

O apóstolo Pedro falou de Satanás como “o diabo, vosso adversário” (1 Pedro 5:8).  A verdade da declaração de Pedro fica evidente na narrativa da perda da fortuna de Jó. Negar a existência ou o poder do adversário seria um erro fatal, por parte do crente.

No segundo duelo com Jó, Satanás demonstrou que tem poder para aniquilar a saúde física do crente, quando Deus lhe permite tal coisa (Jó 2:1-7). O fato de Deus ter-lhe negado este privilégio no primeiro duelo é uma espécie de reconhecimento do poder de Satanás (Jó 1:12). Se Satanás não tivesse esse poder, não haveria necessidade de proibir-lhe tal ataque. A mesma espécie de limitação no segundo duelo revela da mesma forma que Satanás tem o poder de matar o crente. (Jó 2:6)

 

2.2  Satanás, o adversário de Deus

 

Apesar de Satanás estar atacando diretamente a Jó, ele, na verdade, estava atacando ao próprio Deus. Satanás queria demonstrar seu poder sobre as obras de Deus, das quais Jó fazia parte.

Deus concedeu conhecimento ao crente para combater Satanás em um sistema de contrassabotagem. Uma parte desse conhecimento da estratégia de Satanás pode ser observada nesta seção de Jó.

As obras de Deus, em abençoar Jó com riquezas materiais e bem-estar físico, já tinham sido atacadas pelo adversário. Outra obra de Deus eram as bênçãos espirituais possuídas por Jó, como resultado de sua salvação.

O crente do Novo Testamento possui bênçãos espirituais, e o do Velho Testamento também possuía essas bênçãos. A bênção espiritual da alegria era o que Satanás estava procurando negar a Jó. Se Jó amaldiçoasse a Deus, mostraria a perda da sua fé, retidão, amor e alegria, pois tais coisas não estão de acordo com a blasfêmia contra Deus. (Romanos 4:1-9; Efésios  1:3 e Salmos 51:12)

Satanás também atacou a Palavra de Deus. De fato, a própria dúvida quanto à avaliação de Jó feita por Deus era uma acusação indireta por parte de Satanás de que Deus estava mentindo. Da mesma forma que no Éden, o adversário procurou desmerecer a reputação da veracidade das declarações de Deus. Quem tinha razão a respeito de Jó? Se Deus estava certo, o testemunho de Jó iria glorificá-lo. Se Satanás tivesse êxito, o testemunho de Jó falharia e a veracidade de Deus ficaria manchada. (Gênesis 3:1-21; Romanos 3:4.)

O ódio de Satanás contra a Palavra de Deus é compreensível, quando vemos que a Palavra é uma arma mortífera brandida pelo Espírito Santo contra o adversário. A Palavra foi a arma que derrotou Satanás, quando ele tentou fazer com que o Senhor caísse em tentação no deserto. (Efésios 6:17; Mateus 4:1-11; Jó 1:7; 2:2)

O inimigo leva uma batalha até os confins da terra, de modo a sabotar a obra do Senhor em todo lugar. A dúvida que Satanás faz surgir contra a Palavra de Deus é o resultado de um esforço universal, para destruir o poder da Palavra.

Toda a armadura de Deus é necessária para proteger o crente contra tão grande inimigo. Não podemos subestimar o poder dele (Efésios 6:10-18). O soldado cristão alcança a vitória quando permite que o poder do Salvador ressurreto opere em sua vida. Mesmo em meio a perdas materiais ou má saúde, o crente deve apoiar-se sempre no Salvador. Da mesma forma como aconteceu com Jó, a fé é o ingrediente básico para a derrota de Satanás. (2 Coríntios 2:14.)

O inimigo de Jó era real. O poder do adversário era real. A tentação do desânimo era real. As alternativas oferecidas por Deus eram reais. A oportunidade de Jó representar o seu Deus era real. Somente uma fé real poderia ser vitoriosa. A realidade do conflito do crente de hoje é idêntica ao conflito de Jó. A sua fé é real o bastante para suportar os ataques de Satanás?

 

 

ESTUDO III  —  O DEUS DE JÓ

 


Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus durante a minha vida. Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me alegrarei no Senhor. (Salmos 104:33,34)

 

Jó expressou seu sentimento de insignificância e sua gloriosa esperança em palavras emocionantes, quando respondeu às acusações sem discernimento de um amigo, que dizia ser ele um hipócrita. Esse amigo era Bildade, o mais filosófico e argumentador dentre os três amigos de Jó. Jó responde ao dogmatismo de Bildade com profunda convicção pessoal.


3.1  O poderoso Criador

 

Jó não tinha um conhecimento perfeito de Deus. Ele possuía, porém, um conhecimento pessoal do seu Deus. Isto foi suficiente para a tarefa de responder aos vários argumentos e acusações de seus três amigos. Bildade apresentou o Deus da criação como o Todo-Poderoso. Esta verdade não tinha para Jó o mesmo significado que para Bildade. Jó demonstra que o grande poder do Criador o fazia pensar no seu próprio pecado e insignificância.

A pergunta que se apresenta a Jó é esta: “Como pode o homem ser justo para com Deus?” (v. 2). A exigência de Deus é que o homem seja reto e santo diante d’Ele. Jó, naturalmente, reconhece ser isto uma impossibilidade, pois o homem é pecador. O pecado é contra Deus. Sua perfeição e poder exigem que reaja a tudo que é contra Ele, por isso reage com justa indignação e ira.

Quando você reconhece a gravidade do pecado do homem diante de Deus, começa a compreender a graça de Deus na justificação dos ímpios. Jó compreendia a graça de Deus à vista de uma aguda percepção de sua posição insignificante.

O poder de Deus não está limitado à criação e ao juízo, mas também se manifesta na Sua obra de justificação. A resposta à pergunta de Jó é dada por Paulo: “É Deus quem nos justifica” (Romanos 8:33).

O ímpios não podem apresentar-se diante do Criador por causa da Sua perfeita sabedoria e poder (Jó 9:4). Deus empregará o Seu poder para destruir todos os que não permitirem que o conhecimento do Criador transforme a sua vida.

O conceito de Jó a respeito do Criador não O colocava simplesmente como Criador dos céus e da Terra. O Deus de Jó é também o Criador do indivíduo. Esta verdade foi o ponto de partida da sua pergunta: “Parece-te bem que me oprimas, que rejeites a obra das tuas mãos…” (Jó 10:3).

A descrição do Criador de Jó faz alusões ao trabalho do escultor (v. 8) e do oleiro (v. 9). Ambas as ilustrações implicam em que a criação do indivíduo feita por Deus é realizada mediante o poder e a sabedoria divinos. A obra soberana de Deus tinha produzido e preservado a vida de Jó. Este tinha plena percepção da obra do Criador na sua concepção e nascimento (vv. 10-12). (Jeremias 1:4-6.)

As observações de Jó o levaram a reconhecer que nenhum pecado está oculto do poderoso Criador (v. 14). Sua pergunta natural está ligada à razão para as suas aflições (v. 18). Veio ele ao mundo para sofrer?

Qualquer retidão que Jó possuísse teria sua origem no Criador. A mesma verdade é enfatizada pelo salmista, quando escreve sobre o poder de conversão da Palavra de Deus, a oração do pecador arrependido pedindo purificação, e a meditação do santo sobre o testemunho da criação para a glória de Deus. (Isaías 64:6; Jó 1:1; Tito 3:4-7; Salmos 19)

 

3.2  O redentor prometido

 

Ê bem possível que a preocupação de Jó quanto à preservação da sua defesa estivesse associada com a sua perda de confiança diante de Deus. Os ataques de Satanás e o fracasso de seus amigos em consolá-lo, naturalmente fizeram com que sua fé fosse provada, o que pode ter feito diminuir sua confiança, pelo menos até certo ponto. A resposta a este problema de segurança estava na disponibilidade do seu Redentor. Ainda hoje o mesmo Redentor é quem concede a confiança espiritual. (Veja 1 João 3:19-24; Hebreus 4:14-16 e 10:19-22.)

A segunda consideração de Jó foi logicamente a sua esperança em um defensor vivo. Seu defensor, neste caso, é o Redentor, o Filho de Deus (v. 25). Esta clara afirmação de fé é compreendida pelo cristão em suas mais amplas implicações. A compreensão de Jó não era tão clara como a dos escritores do Novo Testamento, mas sua fé era consistente com os fatos do sofrimento vicário do Messias pelos nossos pecados e Sua subsequente glorificação, mediante a ressurreição corporal.

A declaração de Jó de que tinha esse conhecimento é idêntica à de Jó 9:2. O conhecimento é pessoal, experimental e produtivo. Jó, sem levar em conta o conhecimento ou experiência de ninguém mais, conhecia o seu Redentor.

Jó afirmou que seu Redentor “vive” (Jó 19:25). O Redentor de Jó já existia. Esta ênfase é encontrada também em Jó 16:19, onde é dito que o testemunho e registro de Jó estavam no céu.

A Palavra viva de Deus, o Filho de Deus, foi visto por Jó, através da sua fé, como se levantando “por fim… sobre a terra”. Trata-se evidentemente de uma referência ao fim dos tempos, numa época ainda futura.

O acontecimento que exige a presença física do Redentor na terra não é especificado, mas provavelmente ocorrerá ao tempo da ressurreição de Jó. Os dois versículos seguintes parecem indicar isto. Esta seria a época da ressurreição dos santos do Velho Testamento, na volta de Jesus Cristo, para estabelecer o Seu reino na terra. (Veja Jó 14:7-15; Daniel 12:1-13.)

Além de sua esperança de um registro duradouro e de um Redentor vivo, Jó também cria que teria uma ressurreição futura (vv. 26,27). O conhecimento de que Deus podia ressuscitar os mortos era uma esperança real durante todo o período patriarcal. Abraão tinha esta esperança, quando ofereceu Isaque sobre o altar como sacrifício no monte Moriá.

“Os meus olhos o verão” (v.27) é provavelmente uma afirmativa paralela a “Vê-lo-ei por mim mesmo”. Isto esclareceria o v. 26 e indicaria que Jó realmente estava prevendo a sua ressurreição. No v. 26 ele já havia reconhecido a deterioração do seu corpo físico. Jó compreendia que a vinda do Redentor seria depois dos seus dias. Tal conhecimento deve ter chegado a Jó através de uma revelação pessoal de Deus.

O Criador e Redentor de Jó é o Filho de Deus, descrito em Colossenses 1:13-20 pelo apóstolo Paulo. A esperança de Jó também pode ser a sua. O Criador de Jó é o seu também. O Redentor de Jó é o seu também. Jesus Cristo liberta da opressão do pecado, de Satanás e da morte (Hebreus 2:14,15). A sua esperança no Redentor irá purificá-lo (1 João 3:1-3).

 


ESTUDO IV  —  OS CONSELHEIROS DE JÓ

 


Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus. (2 Coríntios 1:3,4)

 

Os três amigos de Jó procuraram aconselhá-lo com respeito à sua aflição e também interpretaram as palavras de Jó como se estivessem progredindo para uma solução. Na verdade, a condição espiritual de Jó estava em declínio, sob o falso aconselhamento deles. O cristão sábio aprenderá com os erros dos conselheiros de Jó.


4.1  Médicos da alma que não sabem consolar

 

Os conselheiros de Jó não estavam completamente errados. Existem vários aspectos de seu ministério que precisam ser reconhecidos: 1) sua visita para confortar Jó (Jó 2:11); 2) seu reconhecimento silencioso do sofrimento de Jó (2:12,13); 3) o fato de levarem a Jó sua opinião em lugar de dizê-la a outrem; e 4) sua lealdade a Jó e posterior submissão (42:7-11).

O propósito de Elifaz, Bildade e Zofar era consolar Jó (Jó 2:11). Quando os três homens chegaram à casa de Jó, imediatamente reagiram ao sofrimento que lhes foi dado ver. Choraram alto, rasgaram suas vestes, jogaram poeira para o ar e permitiram que esta caísse sobre o seu rosto (v. 12). Isso indicavam sua participação no sofrimento intenso do amigo.

Quando os amigos de Jó descobriram que o sofrimento dele era inexplicável e inexprimível, guardaram para si mesmos os seus pensamentos, mantendo-se em silêncio durante sete dias e sete noites (v. 13). Talvez o silêncio mudasse de uma simpatia inexprimível para uma admissão de fracasso durante esses sete dias e noites. O discurso de Elifaz acusou Jó de ser presunçoso em sua afirmativa de inocência (Jó 15:1-35). A resposta de Jó foi seca: “Tenho ouvido muitas cousas como estas; todos vós sois consoladores molestos” (Jó 16:2). O desinteresse de Jó pelo conselho dos amigos estava-se tornando bastante evidente. Tinha ouvido as mesmas frases feitas de todos eles. A superficialidade deles só merecia o seu desprezo. Tinham tido a ideia de consolar, mas só aumentavam o seu desconforto.

Jó, a seguir, acusa seus conselheiros de proferirem palavras sem nenhum conteúdo e terem uma atitude negativa (Jó 16:3). Por seu lado, Jó afirmava que ele fortaleceria e confortaria os amigos se estivessem no seu lugar, e isso apesar de poder também falar de maneira pouco consoladora como eles estavam fazendo (v. 4,5). (Veja 2 Coríntios 1:3-7 e 1 Tessalonicenses 5:14,15.)

Depois do último discurso dos conselheiros (Jó 25:1-6), Jó mais uma vez se refere ao ministério ineficaz dos mesmos (Jó 26:1-4). As palavras dos amigos não tinham-lhe dado nem força, nem compreensão, nem sabedoria (vv. 1-3). Voltando-se para Bildade, Jó pergunta: “Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em ti?” (v. 4). Esses conselheiros na verdade não deram nenhum consolo à alma de Jó. (Veja Jr 23.30.)


4.2  Falsos médicos da alma

 

O desespero de Jó aumentou ainda mais com o fracasso dos amigos em encontrar um meio de impedi-lo de abandonar, gradualmente, o “temor do Todo-Poderoso” (Jó 6:14). Os três companheiros de Jó eram tão desapontadores quanto os ribeiros do Oriente Próximo (w. 15-20). Os amigos de Jó estavam cheios de simpatia até começarem a falar. Agora, quando ele mais precisava da compreensão deles, estavam secos e não lhe davam consolo.

Os três conselheiros tinham medo de consolar Jó, porque temiam que tal identificação pudesse levá-los a serem condenados com ele (v. 21). Jó não pediu ajuda financeira (v. 22) nem um grande ato de heroísmo (v. 23). Tudo o que pediu foi o seu conselho compreensivo.

Uma parte da falsidade desses homens estava na afirmação irreal de que Jó prosperaria novamente se confessasse os seus pecados e se afastasse deles. Provar que ele era perverso que era desonesto, mas foi o que tentaram fazer. Apesar de todas as acusações hipócritas, Jó manteve-se irredutível na defesa de sua inocência. Se houvesse pecado em sua vida, ele com certeza o saberia (w. 29,30).

 

4.3  Médicos insensatos da alma

 

Além de não darem consolo e de faltarem com a verdade, os conselheiros de Jó não mostraram sabedoria. O fato de recorrerem à desonestidade provou sua falta de sabedoria. A maneira como apresentaram seus conselhos pouco sábios se relaciona especificamente às suas filosofias individuais com respeito à vida espiritual.

Elifaz, Bildade e Zofar tinham tanta confiança na retidão da sua crença, que Jó comentou com sarcasmo: “Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria” (Jó 12:2). Esta resposta foi dirigida especialmente a Zofar, que baseava suas convicções religiosas em suas próprias suposições. Zofar era um consumado dogmatista religioso. Devido à sua visão rígida da Providência, Zofar concluiu com presunção: Jó é um homem cheio de pecado. Dogmatismo religioso de Zofar: (Jó 11:6-20; 20:4,5)

Jó respondeu com o argumento de que possuía tanto conhecimento religioso quanto qualquer um de seus amigos (Jó 12:3; 13:1,2);  a experiência de Elifaz era a mesma de Jó; as tradições de Bildade eram idênticas às aprendidas por Jó. Este, porém, não chegou às mesmas conclusões específicas desses homens, mas usou a experiência, a tradição e as suposições de maneira a desenvolver as suas crenças, que provaram ser corretas com grande surpresa dos três amigos (Jó 42:7).

Como moralista religioso que era, Elifaz fez uso do raciocínio dedutivo, para chegar à sua visão extremamente rígida da Providência. Ele deduziu: se Jó não tivesse pecado, não estaria sofrendo tanto.
Bildade era um legalista religioso. Suas crenças tinham base na tradição. Como tradicionalista, a visão de Bildade sobre a Providência era também muito estreita. A inferência de Bildade foi esta: Jó deve ter pecado, portanto, ele é um hipócrita.

Os três consoladores se tinham transformado em juízes, em lugar de irmãos. Todos concluíram que o sofrimento de Jó era punitivo. Exigiram que ele confessasse um pecado que não tinha cometido e acabaram por levá-lo a uma atitude errada em relação ao seu sofrimento e ao seu Deus. (Veja Jó 33:8-11; 34:36,37; 35:15,16.)

Em vista de suas falsas filosofias, os amigos de Jó começaram a zombar dele e desprezá-lo (Jó 12:4,5). Muito pior, entretanto, foi sua provocação a Deus (v. 6). (Veja Gálatas 6:1-10.)

A seguir, Jó passou a apresentar seu caso a Deus, uma vez que os amigos tinham demonstrado tão pouca simpatia (Jó 13:3,4). Finalmente, ele clamou desesperado: “Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos sois médicos que não valem nada” (v. 4). Em lugar de serem bons médicos, os conselheiros de Jó mostraram-se inúteis como médicos da alma.

As defesas da experiência, da tradição e da suposição são como argila diante do Deus da verdade. Nenhuma das três é completamente errada, mas todas falham, quando alguém se baseia explicitamente nelas e deixa de lado a revelação divina. A experiência, o tradicionalismo (que, segundo as declarações de Bildade, é geralmente autoritário e legalista) e o humanismo são sistemas errados. Eles são ineficazes quando se trata de satisfazer às necessidades das pessoas. Não proporcionam consolo, são inverídicos e pouco sábios. Os que se preocupam realmente com os seus irmãos na fé rejeitarão esses sistemas imaginados pelo homem.

Os conselheiros espirituais devem demonstrar preocupação sincera e constante, assim como proporcionar o consolo necessário, a verdade e a sabedoria.

 

AUTOR

JOSIAS MOURA DE MENEZES


Josias Moura de Menezes é Pastor Evangélico e Professor na Igreja Missionária Evangélica do Betel Brasileiro, Professor de Teologia no Instituto Bíblico Betel Brasileiro e no STEC - Seminário Teológico Congregacional.

Sua formação acadêmica aconteceu através do STEB – Seminário Teológico Evangélico Batista Mineiro e pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro.

 

Por: Pr. Josias Moura de Menezes

Publicado em 28/11/2013

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