Vontade do homem x Vontade de Deus

 

VONTADE DO HOMEM  

X  

VONTADE DE DEUS

 

 

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.”  (Apocalipse 3:20)

 

 

INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
 
 
 
A verdade, na Bíblia, costuma chegar até nós por dois caminhos diferentes, o que leva a maioria das pessoas a confundir-se. Sem uma boa compreensão dos princípios básicos de interpretação das Escrituras, corremos o risco de cair em extremos perigosos.
 
Mostraremos, a partir de agora, algumas situações bíblicas que exemplificam a dicotomia mencionada, deixando para depois o nosso assunto principal, que é o encontro da nossa vontade com a vontade de Deus.
 
A primeira delas é causada pelas afirmações das passagens 1 João 2:15,16 e João 3:16
 
 
Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele, pois tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.  (I João 2:15,16)
 
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)
 
 
O primeiro texto diz que não devemos amar o mundo, porque quem ama o mundo não consegue ter dentro de si o amor do Pai; o segundo, diz que Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho para que todo aquele que n’Ele creia, não pereça, mas tenha a vida eterna.
 
É um dilema ou não? Se não tivermos um conhecimento básico de interpretação bíblica, e não tivermos discernimento, nos perderemos em meio a verdades aparentemente desencontradas, correndo o risco de nos enveredar por extremos perigosos. Ao mesmo tempo em que a Bíblia diz que Deus amou o mundo, também nos aconselha a não amar o mundo, e nem as coisas que existem nele!  
 
O que precisa ser explicado é que a expressão “Deus amou o mundo...” se refere às pessoas que vivem no mundo, enquanto que a expressão “...não devemos amar o mundo...” fala dos pecados que existem no mundo.
 
 
 
VONTADE DE DEUS OU DO HOMEM?
 
 
 
Entrando no nosso tema proposto inicialmente, meditaremos sobre as duas passagens João 1:12-13 e Apocalipse 22:17, que parecem mostrar ideias antagônicas, contrárias, situação que requer discernimento e conhecimento de interpretação das Escrituras Sagradas. 
 
 
Mas todos os que O receberam, àqueles que crêem no Seu nome, deu-lhes o poder de serem filhos de Deus — filhos nascidos não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.  (João 1:12,13)
 
[...] Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.  (Apocalipse 22:17)
 
 
O primeiro texto diz que aqueles que creram, não o fizeram pela sua vontade, mas pela vontade do Senhor; já o segundo, mostra Deus convidando aqueles que ouvem, que têm sede e que quiserem, que venham beber da água da vida. Em outras palavras, o primeiro texto não diz que somos salvos em Jesus, nem que depende de nós crer na salvação através d’Ele; o segundo, entretanto, mostra o Espírito de Deus convidando as pessoas a provarem as delícias da salvação, dizendo que é para quem quiser!  É como se dissesse: Venha, a porta está aberta!  É só querer entrar!
 
 
Esses conflitos, muitas vezes, motivam a criação de novas Igrejas, normalmente defendendo doutrinas revolucionárias, extremistas e perigosas, chegando às raias da heresia. Algumas delas defendem a tese de que nos convertemos única e exclusivamente pela vontade de Deus (João 1:12,13), divulgando ideias de uma predestinação radical que exclui do ser humano o direito de livre escolha. Olham apenas um lado da verdade.
 
Outras doutrinas, porém, tomam a outra corrente (Apocalipse 22:l7 e textos semelhantes), que nos ensinam da necessidade de desejarmos a salvação, para que ela aconteça. Existem ainda outros casos que poderiam ser citados, mas cremos que já conseguimos passar a ideia.
 
 
 
 
 
AS IDÉIAS SE COMPLETAM
 
 
 
Passamos, agora, a registrar textos que condensam as duas correntes, aparentemente antagônicas, provando que as duas se completam. Veja o que Jesus diz a João em Apocalipse 3:20:
 
 
“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele comigo.”  (Apocalipse 3:20)
 
 
 Aqui vemos Jesus batendo na porta de alguém, dizendo que se essa pessoa ouvir Seu chamado e Lhe abrir a porta, Ele entrará e haverá confraternização, comunhão entre eles. Isso quer dizer que as duas vontades estão se encontrando, que a salvação acontecerá porque Jesus está querendo entrar, mas também porque a pessoa visitada está disposta a Lhe abrir a porta.
 
O desejo de salvar as pessoas e conservá-las junto de Si, sempre foi uma meta permanente de Deus, porém não é por isso que alguém vai receber essa graça sem estar interessado nela; Deus respeita o livre arbítrio de cada pessoa, pois é um direito inalienável e inviolável que Ele mesmo estabeleceu, como está registrado em Deuteronômio 30:19 e em Josué 24:14-25.
 
É bom dizer que se você não quiser, não será salvo!  Deus não é como o diabo, que não respeita!  Satanás arromba a porta do nosso coração, invade, estupra a vontade das pessoas débeis e enfraquecidas. Jesus, porém, é um cavalheiro, um verdadeiro “gentleman” - Ele pede licença para entrar!
 
Vale a pena continuar refletindo sobre esse tema: Quando Jesus diz que está à porta e bate, está expressando Sua vontade de entrar, de fazer a Sua parte. Em seguida, Ele diz: “Se alguém ouvir e me abrir a porta, eu entrarei e cearei com ele.”  É aí que aparecerá a outra parte interessada: a vontade do homem.
 
Jesus quer e nós queremos: aqui está a chave da salvação! Ele bate e quer entrar; nós ouvimos e O convidamos a entrar.  Se a vontade do Senhor é que sejamos livres, precisamos ter essa vontade também, ou nada acontecerá. Se lermos II Pedro 3:9 veremos a vontade do Senhor de que todos sejamos salvos; falta agora descobrir qual é a vontade do homem.
 
A vontade de Deus é que cresçamos na fé, que amadureçamos, que sejamos espirituais, que andemos pela consciência cristã e pelos princípios divinos, que precisam nortear o nosso comportamento na vida.  Porém, precisamos unir a nossa vontade à vontade do Senhor, ou nada será possível.  Apesar de ter poder para fazer qualquer coisa com qualquer pessoa, Deus não forçará ninguém a segui-Lo, nem a obedecê-Lo (João 6:66-68)
 
A receita, então, é esta:  desejo com desejo, vontade com vontade!  Quando há o casamento dessas duas vontades (divina e humana), Deus faz as maiores obras.
 
 
 
EU QUIS, MAS TU NÃO QUISESTE  
 
 
 
Vamos agora relembrar a mensagem registrada em Lucas 13:34,35 que também expõe magistralmente o que comprovamos nos textos anteriores.
 
 
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha que ajunta os seus pintinhos debaixo de suas asas, e vós não o quisestes!  (Lucas 13:34,35)
 
 
Aqui, Jesus está à entrada de Jerusalém e comenta, tristemente, quantas vezes tinha tentado livrar o povo daquela cidade. Isso confirma que não devemos nos extremar nem em lado, nem em outro. Os extremos nunca foram bons; temos que buscar o equilíbrio em todas as coisas.
 
 
Se Deus deseja e o homem deseja, nada poderá impedir essa fusão. Deus colocará por terra todas as barreiras, desestruturará todos os obstáculos, superará as objeções, transporá todas as muralhas que possam causar divisão e que muitas vezes nos impedem de receber a graça do Senhor.  Deus quer operar poderosamente em nossas vidas, no entanto Ele espera pacientemente pelo nosso consentimento.
 
Quando existem choques entre a vontade de Deus e a nossa, as coisas ficam truncadas, não caminham, não crescem, não desabrocham e não amadurecem. Assim, precisamos evitar todo tipo de choques entre a nossa vontade e a vontade de Deus.
 
Esse texto de Lucas, que estamos estudando, mostra um dos momentos mais críticos na vida do Senhor Jesus. Ele chorou diante de Jerusalém.  Naquele momento Ele estava tendo uma visão profética da invasão de Tito sobre aquela cidade, fato que aconteceria setenta anos mais tarde, onde passaram ao fio da espada desde as crianças de colo até as pessoas mais avançadas em idade.  Foi uma verdadeira carnificina!  Jerusalém mesma houvera buscado a destruição para si, pois dispensara a proteção do Senhor.
 
 

Tudo isso começou quando os judeus trocaram Jesus por Barrabás, um homem sanguinário, um verdadeiro marginal. A multidão enfurecida e enlouquecida, em Jerusalém, gritava que o sangue de Jesus caísse sobre ela e seus descendentes! Mateus 27:l5-3l registra tudo isso detalhadamente. Ali foi assinada a sentença de morte para aquela cidade.

Jesus anteviu tudo isso naquele momento. E Jesus chorou. A lamentação de Jesus, ali, foi muito parecida à lamentação do profeta Jeremias, no Antigo Testamento: “Oh, Jerusalém que matas e apedrejas os profetas que te são enviados. Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintinhos, debaixo de suas asas! Mas tu não quiseste!”

Jerusalém era assassina, apesar de ser a capital espiritual da humanidade; era homicida, apesar de ter edificado em seu seio o templo do Senhor; era infiel, incrédula, perversa, corrupta, apesar de estar repleta de pessoas religiosas.  Matava os profetas que lhe eram enviados!  O próprio Jesus, nesse texto, disse: “Não se espere que um profeta morra fora de Jerusalém.” (v.33)   Parece ironia!

Jesus chorou diante de Jerusalém, mostrando ali todo o seu desejo de salvar aquele povo infiel: “Eu quis...tu não quiseste!”   Que isso não venha a ocorrer conosco, que não nos vejamos numa situação onde Deus queira e nós não, onde Ele insista e nós resistamos. Procuremos, antes, acompanhar a vontade de Deus, enquadremo-nos nela, Obedeçamos ao Senhor, pois só assim haverá favor divino e não condenação.

 
 
 

AS DUAS FACES DA VERDADE  

 

A verdade, muitas vezes, é como uma montanha: você a escala por um lado e tem uma visão; se subir pelo outro lado, terá outra visão à sua frente. Outra ilustração que se encaixa perfeitamente nessa idéia, é que a verdade, muitas vezes, é como as duas faces de uma mesma moeda. Este é um dos princípios básicos de interpretação das Escrituras.

 

Pois nos elegeu n’Ele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante d’Ele.  Em amor nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade.   (Efésios 1:4,5)

[...] Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.”  (Apo 22:17)

                                

Uma pessoa, certa vez, colocou didaticamente a situação da salvação, da seguinte maneira: alguém se converteu, tornou-se salvo, morreu e foi para o céu. Quando chegou lá, viu escrito na face externa da porta do céu a seguinte mensagem: “Quem quiser, venha e beba de graça a água da vida.” (Ap. 22:l7).  A pessoa entrou, e quando a porta se fechou às suas costas, voltou-se e leu o que estava escrito na face interna da mesma porta:  “Escolhido foste desde a fundação do mundo.” (Efésios 1:4)

 

 

CONCLUSÃO

 

 

As verdades se unem, os dois lados se condensam e nós passamos a compreender porque num lugar a Bíblia diz que nós temos que querer e em outro lugar diz que Deus tem que querer também. Precisamos entender esses princípios básicos de interpretação das Escrituras Sagradas, para que não incorramos no erro de nos extremarmos perigosamente.

 

AUTOR

Pr. Bartolomeu Severino de Andrade

 

Esta pregação aconteceu em 17/06/1993, tendo por local a Igreja ADI, em Tubarão/SC. Os trabalhos de gravação, formatação e edição foram produzidos por Walmir Damiani Corrêa  —  www.elevados.com.br.

 

 

Por: Bartolomeu de Andrade

Publicado em 06/04/2014

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